DA MONTANHA AO MAR,
DO MAR À MONTANHA

Apresentação do projecto

Qual a relação entre o arquipélago Açoriano e as paisagens alpinas Suíças? A paisagem verde natural, os lagos, as nuvens e as vacas que nos oferecem um leite de qualidade excepcional?

Esta caricatura um pouco forçada é, de alguma forma, representativa destes territórios, a isto se juntando o isolamento geográfico dos seus habitantes.

Propomos um encontro entre estas duas terras, longínquas e aparentemente sem ligação, através de dois textos que nos transportam para outro tempo: “As ilhas desconhecidas”, do português Raúl Brandão (1924), e “La grande peur de la montagne”, do suíço Charles- Ferdinand Ramuz (1925). Ambos os textos nos falam de realidades vividas há cerca de cem anos.

O primeiro fala-nos do encontro de um visitante com o território açoriano: uma abordagem de descoberta e exploração, de fascínio face à novidade. O segundo fala-nos de uma vivência nas alturas, a milhas do oceano, e de uma união íntima e harmoniosa entre o Homem e Natureza, mas constantemente ameaçada pela violência dos elementos naturais. A solarenga montanha suíça surge como um escape do cinzento invernal da planície, coberta de nuvens que se estendem como um mar infinito. Por um lado sentimento de esperança, por outro a ansiedade criada pelo vazio acústico e o terror do silêncio, como refere Ramuz.

Estamos geograficamente no centro da Europa, mas sentimo-nos isolados do mundo. As ilhas dos Açores, como barcos à mercê dos humores do oceano, são também constantemente ameaçadas pela sombra dos picos das montanhas, de cuja matéria é criada a sua terra quando os vulcões se zangam. Estamos no centro do Atlântico, a poucos passos de quatro continentes, mas também isolados do resto do mundo, rodeado apenas de ondas e de vento, como nos lembra Brandão.

“Do Mar à Montanha, da Montanha ao Mar" é uma proposta que explora estes territórios a partir de uma inversão dos contextos espaciais, oferecendo uma narrativa suíça a uma paisagem açoriana e vice-versa. Assim, constrói-se uma nova acção a partir das referências literárias, com um contexto geográfico invertido para cada uma das narrativas, induzindo um sentimento de familiaridade desestabilizante. Esta abordagem de carácter criativo, é feita através da escrita, das artes visuais e performativas, com o objectivo de co-criar um teatro de sombras com membros da comunidade faialense.

Assim, explorámos a troca de vivências e experiências propondo uma reflexão sobre a condição humana existente num determinado território, face aos elementos da natureza – de sempre e actuais, ameaçados pelas alterações climáticas – e à evolução tecnológica.

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Processo criativo

Foi realizada uma abordagem de carácter criativo, através da escrita, das artes visuais e performativas, e como resultado deste encontro, a criação de um teatro de sombras. O trabalho realizado ao longo de uma semana, envolveu as seguintes tarefas e métodos:

• leituras, trabalho de interpretação e crítica dos textos seleccionados - análise de atmosferas, paisagens, sentimentos, narrativas, personagens, sons e cheiros, tempo e clima;

• partilha e debate de histórias locais ou histórias pessoais experienciadas nos territórios abordados (Açores e Suíça);

• construção de um enredo narrativo a partir da criação de uma sequência de excerptos dos textos seleccionados em conjunto, trabalhando as partes que mais interpelaram cada participante;

• A partir do enredo narrativo, construcção de um cenário e um universo visual, com recurso aos métodos e ferramentas das artes visuais, tais como o desenho e o recorte;

• Trabalho de manipulação de luz e de objectos;

• Criação de um guião;

• Montagem de um plano de acção dramático, ensaios e representação através de teatro de sombras.

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Horário dos encontros: das 18h - 20h

Local: Banco de artistas

Espectáculo: 3 Julho no Festival Maravilha às 21h

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Concepção artística: Letícia do Carmo e Sónia Vieira Cardoso

Produção: Sandra Cardoso

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