A SOMBRA
À SOMBRA
Teatro de sombras + Encontros sobre território e arquitectura + Performance
Sobre planeamento urbano e imobiliário e o direito à cidade. Inspirado na obra e crítica artistica de Raphael Bordalo Pinheiro e Bordalo II.
Projecto dirigido pelo Colectivo Trilhos,
com a colaboração da Associação Lifeshaker
Porto Brandão e Monte da Caparica, Almada.
Período de residência e criação: Jul-Nov 2024
Encontros: 19 de Novembro a 15 de Dezembro 2024.
Espetáculo: 15 de Dezembro 2024.
Apresentação do projecto
Este teatro de sombras resulta de uma série de encontros com adolescentes da Associação Lifeshaker, no Monte da Caparica e no Porto Brandão. Foram realizadas várias conversas, entrevistas, visitas guiadas, gravações, oficinas de teatro, expressão corporal e construção e manipulação de objectos. A performance será feita pelos adolescentes.
Este é também o resultado de um trabalho de investigação relacionado com questões urbanas e sociais que pretende redescobrir a vila de Porto Brandão através de um encontro entre o Monte da Caparica e o monte onde se instala o edifício do Lazareto. “Montes” fazem sombra sobre o vale, e é nesse encontro que é criada esta trama. Propusémos que os adolescentes fizessem uma actualização da sátira política de Rafael Bordalo Pinheiro (a propósito da sua permanência no Lazareto em 1879) relativamente ao território onde vivem, com a ajuda do Museu Bordalo Pinheiro, e que explorassem a obra artística de Bordalo II, presente no local. O Monte da Caparica tece, completa e traz um olhar actual do território, que hoje se quer reflectir enquanto um todo, sendo alvo de interesse de projectos urbanos e imobiliários que estão para acontecer em breve, trazendo grandes transformações materiais e sociais.
Sinopse do espetáculo
Constroem-se cidades, destroem-se cidades… Um dia o Povo acorda. Mas..
É dia de eleições no Bairro Amarelo e há discussões, abraços, brigas e danças. Viaja-se do Monte da Caparica até Porto Brandão. E que ruína misteriosa é aquela lá em cima da ravina e que histórias tem para nos contar? Que relações de poder existem entre espaço e pessoas no Lazareto/Asilo 28 de Maio e no Bairro do Asilo, sítio onde hoje vivem os últimos moradores daquele imponente edifício?
Voltam-se a construir cidades. Mais cidades, sem parar. Eles fazem planos, e nós, o que achamos?
Como será o futuro em 2030?
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Encontros: 2as, 4as e 6as (duração de ~3h cada encontro)
Local: Oficina de Artes e Ofícios de Porto Brandão e sede da Associação Lifeshaker (Monte da Caparica)
Espectáculo: 15 Dezembro | 18h30
Local:Oficina de Artes e Ofícios de Porto Brandão
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Um projecto do Colectivo Trilhos
Criação, Direcção artística, Produção e Facilitação dos encontros e do espetáculo:
Letícia do Carmo e Sandra Cardoso, com a colaboração de: Sara Wittmann.
Apoio: Joana aleixo e Julie Musialek.
Música ao vivo: Hugo Wittmann
Apoio à criação artística: Sónia Vieira Cardoso
Teatro de sombras criado a Associação Lifeshaker
Participantes: Alice Maravilha, Cada HKPT, Cláudio HKPT, Enzoca, Igor HKPT, Mara Maravilha, Miguel Kapa, Pedro David, Rodrigo MS, Rodrigo HKPT, Serafim Glock, Sofia Maravilha, Talita. Coordenação da equipa Lifeshaker: Márinho, Tiago e Patrícia. Captação e Montagem de som Sakura.
Entrevistas
Moradores do Monte da Caparica e Porto Brandão.
Projecto realizado com o apoio de
DGArtes - Direção Geral das Artes, Associação LifeShaker, Fundação Serra Henriques, Museu Bordalo Pinheiro, Produção d’Fusão, Junta da União das Freguesia de Caparica e Trafaria.
Agradecimentos
Zé Rui Valadares, Inês Noivo, Bordalo II, Alexandre Resende, Duarte Sobral, Tom Davis.
PERFORMANCE
video: Lifeshaker (Joana Costa)
Aconteceu no Monte da Caparica e na vila de Porto Brandão um teatro de sombras com a participação dos jovens da associação Lifeshaker. Este é um projeto de pesquisa e investigação, recolha de histórias e colaboração comunitária, que pretende debater as transformações que aconteceram e estão para acontecer nestes territórios. Inspirámo-nos e propusémos uma actualização da sátira política da obra Rafael Bordalo Pinheiro a propósito da sua permanência no intrigante edifício do Lazareto em Porto Brandão, e na obra de Bordalo II, também presente na vila.
Detalhes sobre o projecto
Redescobre-se Porto Brandão através da relação entre o Monte da Caparica e o monte onde se instala o Lazareto. “Montes” fazem sombra sobre o vale, e é nesse encontro que se criará uma nova trama, representada em teatro de sombras. A manipulação de objetos e de luz permite relacionar as artes plásticas com a construção de narrativas e com o teatro de comunidade, explorando o jogo entre luz e escuridão, convidando os participantes e o espectador a imaginar e criar novas perspectivas, mundos e alternativas.
A vila de Porto Brandão, localizada num vale entre duas colinas, estabelece uma relação direta com o Tejo, sendo uma antiga vila piscatória com decrescimento económico, fraca rede de acesso e transportes e abandono do edificado. É aqui que se encontra o edifício do Lazareto. A partir das suas curiosidades geográficas, histórias e vivências, explora-se a ideia da “sombra” em Porto Brandão - à sombra dos montes, situada no fundo do vale; à sombra de um imponente edifício, desligado do mundo exterior, de estranha forma, usos e vivências; à sombra dos grandes planos imobiliários que determinarão o futuro deste território e das suas gentes. Pretende-se que todas estas sombras sejam materializadas num teatro, também de sombras.
O edifício do Lazareto assombra a vila com a sua presença imponente e intrigante e conturbada história de carácter defensivo, penal, sanitário, marginal. Ali situam-se também ruínas da Fortaleza da Torre Velha. Foi em 1869 construído o edifício do Lazareto, garantindo quarentena para pessoas provenientes de países afetados por doenças infecto-contagiosas. A sua planta radial, com um bloco central e 6 braços, remete para as estruturas panópticas de Foucault (1975), arquiteturas prisionais concebidas para vigiar e punir. Foi, certamente por isso, utilizado como presídio. Depois teve outros usos - entre os quais a ocupação por centenas de pessoas provenientes de ex-colónias após 1974 - até ser abandonado devido a derrocadas e incêndio. Vendido e revendido, sonha agora com futuros luxuosos. Durante a sua quarentena (1879) Bordalo Pinheiro eternizou o Lazareto com as suas ilustrações e humor. É a partir destas que surge um ponto de partida para uma nova narrativa: crítica e sátira política, territorial, arquitetónica, histórica. Mas e que relação com os problemas e os desafios do mundo atual?
Bordalo II traz-nos essa atualização através da obra Lighted Crab, exposta em frente à estação fluvial. Feita a partir de lixo recolhido no rio, este caranguejo estabelece uma relação com a vida desta vila piscatória, consciencializando sobre o consumo, desperdício, poluição e animais em extinção, reforçando a necessidade de combater a aceleração das alterações climáticas. O desenho e grafismo, a materialidade e forma de expressão dos dois artistas (que partilham um mesmo nome, Bordalo), servem de inspiração à estética dos objetos, personagens e cenários concebidos pelos participantes do projecto para o teatro de sombras.
O Monte da Caparica integra-se no projeto urbano de reabilitação e revitalização imobiliária planeado para esta região. A sua presença contribui para tecer, completar e trazer um olhar contemporâneo e abrangente a um território que hoje se quer reflectir como um todo, assegurado pela participação e olhar fresco da sua jovem população (colaboração com LifeShaker). O cruzamento com a população mais idosa de Porto Brandão, permite misturar realidades, gerações, modos de vida e perspetivas, contribuindo para uma mais rica construção da narrativa, proporcionando um encontro entre o lugar e as pessoas que o habitam, dando mais visibilidade a cada.
Com o apoio financeiro da DGArtes,
e apoio logístico do Museu Bordalo Pinheiro e Fundação Serra Henriques.
Media
"Uma terra contada em sombras por jovens. O que ensinam eles sobre Porto Brandão?"